A fibra óptica é o alicerce silencioso que sustenta a revolução digital no Brasil. Longe de ser um luxo, a conectividade de alta velocidade é agora uma necessidade estratégica – impulsionando a produtividade, a inovação e a competitividade global.
Destravando a conectividade de áreas remotas por meio de infraestrutura
Em 2024, 94% das empresas brasileiras estavam usando conexões de fibra óptica, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação. Diferentemente de tecnologias legadas, a fibra permite a transmissão de dados por meio de pulsos de luz, podendo atingir velocidades na ordem dos terabits por segundo. Isso permite altas taxas de download e upload – essenciais para o trabalho com grandes volumes de dados. A baixa latência é outra característica crítica, fundamental para aplicações que exigem respostas imediatas, como videoconferências, transações financeiras, operações comerciais e jogos online.
Apesar desse progresso, alguns gargalos permanecem, como a dificuldade de se implementar a infraestrutura em determinados locais e garantir que a conectividade via fibra seja fim a fim. Ou seja, há pouco benefício em ter um atendimento de fibra – ou mesmo móvel 5G – no acesso à empresa, e esse acesso não ser conectado a uma rede de transmissão também em fibra, sólida e com capacidade.
Esses desafios podem aprofundar a desigualdade digital, tanto em termos de cobertura quanto de qualidade, especialmente entre grandes centros urbanos com infraestrutura consolidada e cidades menores ou áreas rurais com conectividade mais frágil. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a região Norte enfrenta os desafios de conectividade mais significativos do Brasil. A superação dessas barreiras exige a colaboração entre os setores público e privado para compartilhar os custos de implantação.
Um exemplo de solução inovadora para áreas de difícil acesso é o Projeto Amazônia Conectada (PAC), estabelecido em 2014 para implementar infovias de fibra óptica em pelo menos 59 localidades no Norte do país, usando os leitos dos rios. Recentemente, o Conselho Diretor da Anatel autorizou a EAF (Entidade Administradora da Faixa de 3,5GHz) a operacionalizar a adequação e recuperação desses cabos, começando pelo trecho entre as cidades amazonenses de Tefé e Coari da Infovia 01, onde ocorreram vários rompimentos de fibra devido a condições climáticas extremas, erosão e embarcações que trafegam em áreas irregulares. Apesar desses trabalhos não fazerem parte do edital de espectro 5G, as medidas são consideradas fundamentais para vincular o PAC ao Programa Amazônia Integrada e Sustentável (PAIS) e se valerão de recursos oriundos do leilão.
Acelerando a economia digital
A pandemia de COVID-19 acelerou a transformação digital brasileira em 5 a 10 anos. O trabalho remoto, a digitalização de negócios e a crescente demanda por serviços online levaram as empresas a investir em infraestrutura de rede robusta, como a fibra, e em ferramentas baseadas em nuvem. Como resultado, a fibra óptica é agora um motor de crescimento para a economia digital.
No setor de e-commerce, por exemplo, a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) espera que o faturamento cresça para R$ 235 bilhões em 2025, ante R$ 204,3 bilhões em 2024, apresentando um aumento de 15%. Essa expansão do comércio eletrônico foi impulsionada pela qualidade de conexão que a fibra oferece.
Outros setores também se beneficiam. Por exemplo, no setor de saúde, a banda larga possibilita desde teleconsultas até o monitoramento remoto de pacientes, bem como a transmissão em tempo real de exames complexos, como ressonâncias magnéticas. A educação, com o ensino a distância, e os serviços financeiros, com o crescimento de bancos digitais e fintechs, também foram alavancados.
O papel da fibra nas cidades inteligentes e na Indústria 4.0
A fibra óptica também é fundamental para cidades inteligentes e Indústria 4.0. Tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), 5G e automação exigem escala, confiabilidade e a baixa latência que ela oferece. Nas cidades, a fibra atua como a grande malha de conectividade, interligando câmeras de segurança, semáforos inteligentes e iluminação pública. Ela garante a velocidade necessária para processar dados massivos, permitindo a gestão eficiente de tráfego e sistemas de transporte público.
Já para a indústria, oferece uma vantagem competitiva ao viabilizar a automação de operações robóticas, a manutenção com realidade aumentada e o controle remoto de máquinas, aumentando a eficiência e a segurança. A conectividade tornou-se um diferencial competitivo global, influenciando diretamente a produtividade e a capacidade de inovação das empresas.
O Brasil continua avançando com a conectividade. A evolução para um próximo nível, porém, demanda um plano nacional estratégico de longo prazo para expandir o acesso à banda larga, simplificar a burocracia para a instalação de infraestrutura e fomentar ecossistemas de inovação. Planos de investimento para massificar a fibra, adotados por países como a França e a Holanda, na Europa, e a Coreia do Sul, Japão e China, na Ásia, servem de exemplo para o futuro da conectividade no país.
Por André Ituassu, COO da IHS Latam
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