O Windows 10 ganhou um último fôlego, mas nem todos estão dispostos a pagar o preço. Na França, a associação April, referência na defesa do software livre, lançou uma campanha nacional para estimular usuários a abandonar o sistema da Microsoft e adotar alternativas como Linux, Ubuntu ou Debian. A iniciativa não é apenas um alerta — é um movimento organizado, com eventos presenciais, suporte comunitário e até um portal dedicado a acompanhar a migração.
O que está em jogo com o fim do Windows 10
O suporte oficial do Windows 10 deveria se encerrar em 14 de outubro de 2025, mas a pressão de entidades como a HOP (Halte à l’obsolescence programmée) levou a Microsoft a estender atualizações críticas gratuitas até 2026. Só que há uma contrapartida: para receber esse “sopro de vida”, o usuário precisa vincular sua máquina a uma conta da empresa.
Para defensores da privacidade, isso equivale a conceder acesso direto a dados pessoais — o que, combinado com a insistência da Microsoft em direcionar usuários para o Windows 11, configura um “empurrão” pouco transparente.
E há outro problema prático: até 400 milhões de computadores em todo o mundo não conseguem rodar o Windows 11, incluindo aparelhos comprados há menos de três anos. O resultado é um ciclo de obsolescência forçada: equipamentos ainda funcionais acabam descartados, impulsionando o lixo eletrônico e pressionando consumidores a gastar em novos PCs.
April aposta em autonomia e ecologia digital
Para Magali Garnero, presidente da April, aceitar o adiamento oferecido pela Microsoft “é apenas recuar para saltar mais fundo no problema”. A associação defende que essa dependência pode — e deve — ser quebrada com alternativas livres.
Migrar para Linux, argumenta a April, representa mais do que trocar de sistema operacional. É decidir por:
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Autonomia: usar o computador sem exigências corporativas externas.
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Economia: aproveitar hardware existente sem precisar investir em novos dispositivos.
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Sustentabilidade: reduzir descarte precoce e impacto ambiental.
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Privacidade: evitar coleta massiva de dados e rastreamento.
Rede de apoio para quem quer migrar
A campanha “Adieu Windows, bonjour le Libre !” já conta com um portal oficial que centraliza tutoriais, agenda de eventos e encontros locais organizados por voluntários. Comunidades se mobilizam em várias cidades francesas não só para instalar sistemas como Ubuntu, Fedora, Mageia, Debian ou PrimTux — voltado a crianças —, mas também para responder dúvidas técnicas durante o processo.
A iniciativa ficará ativa por pelo menos um ano, mas desde já se conecta a ações maiores, como as Journées de la Réparation, que rolam em outubro, e projetos colaborativos como Aide GNU/Linux, que oferece um mapa de voluntários dispostos a ajudar novos usuários.
Uma decisão que vai além da técnica
Mais do que recomendar Ubuntu ou Debian, a April coloca a migração como um gesto político e social. A April defende que trocar o Windows por um sistema livre significa rejeitar práticas de obsolescência programada, reduzir custos familiares com tecnologia, estender a vida útil de computadores domésticos e preservar certo controle individual sobre o mundo digital — em vez de delegá-lo aos gigantes corporativos.
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