A revolução da Inteligência Artificial (IA) deu um salto qualitativo em 2025: saímos da experimentação para a IA Agêntica, com agentes autônomos que não apenas respondem a comandos, mas planejam, decidem e executam tarefas complexas. Para bancos e instituições financeiras, esses agentes representam um diferencial competitivo que pode reduzir custos operacionais, acelerar processos e aumentar a segurança em um setor altamente regulado. Mas, como aconteceu com a adoção de microsserviços no passado, a escalabilidade sem governança pode gerar caos e riscos.
A questão central, portanto, não é apenas "por que adotar agentes?", mas "como escalar de forma disciplinada?".
Na prática, o termo "agente" precisa ser tangibilizado. Imagine um cliente recebendo recomendações personalizadas de investimento feitas por um agente de IA, que entende o perfil de risco do usuário, acessa múltiplos sistemas e executa simulações em segundos. Ou um analista do backoffice que, em vez de navegar por dez sistemas diferentes, é auxiliado por um agente para automatizar fluxos de aprovação de crédito. Essas aplicações já existem, mas são apenas a ponta do iceberg: segundo uma pesquisa, 52% das empresas já usam agentes de IA em produção, e 39% implantaram mais de dez agentes em operações críticas.
Esse movimento traz à tona o conceito de AX (Agentic Experience), uma evolução natural das jornadas de experiência do usuário (UX) e do desenvolvedor (DX). O design de sistemas precisa agora priorizar a experiência do agente, criando ecossistemas acessíveis, semânticos e estáveis para que máquinas interajam com máquinas sem atrito. Bancos globais já testam agentes para trading autônomo, enquanto uma grande companhia alemã reduziu em 25% o downtime de equipamentos críticos graças a agentes de manutenção. No setor financeiro, a transição de interfaces humanas para ambientes machine-to-machine promete ganhos ainda maiores em escala, especialmente em transações complexas, análises regulatórias e prevenção a fraudes.
Entretanto, a história dos microsserviços deixa um alerta: a descentralização sem controle pode levar à perda de governança. Empresas que deixaram robôs "escondidos" em desktops ou fluxos não documentados sabem o preço desse erro. Um único notebook desligado pode derrubar uma operação inteira. Com agentes de IA, os riscos se amplificam: falhas ou desalinhamentos em sistemas multiagentes podem criar gargalos críticos. A governança estruturada – com monitoramento centralizado, métricas de desempenho, frameworks de escalabilidade e práticas de IA responsável – não é opcional; é um requisito estratégico.
Essa urgência se conecta diretamente à cibersegurança. Um relatório apontou que agentes autônomos podem dobrar a capacidade das equipes de defesa cibernética, mas também abrem brechas inéditas, como o "caos multiagente" e ameaças internas. A recente sequência de vazamentos em bancos brasileiros, com prejuízos bilionários, reforça que o ritmo de ataques cresce junto com a automação. Em um mundo onde agentes interagem entre si em velocidades impossíveis para humanos, a segurança não é apenas um pilar técnico, mas um diferencial competitivo.
Além disso, a IA Agêntica está moldando novos modelos de negócios. Pagamentos autônomos, já em desenvolvimento por players globais, prometem transformar o comércio financeiro. Em breve, um agente de IA poderá negociar uma taxa de câmbio, executar a transação e registrar toda a operação em blockchain, sem intervenção humana. Já está provado que transações bancárias autônomas são realidade. Para bancos os tradicionais, isso é uma oportunidade de reduzir custos e aumentar a velocidade operacional, sabendo-se que exige revisão de processos, compliance e infraestrutura.
Escalar agentes não é apenas uma questão tecnológica: é uma decisão organizacional. Um levantamento aponta que 70% das empresas acreditam que agentes de IA exigirão um olhar diferente para as equipes. Modelos híbridos, nos quais agentes atuam como membros ativos de times humanos, serão o padrão até 2028. Organizações que dominarem essa orquestração terão ganhos exponenciais: aumento de até 65% no engajamento humano em tarefas estratégicas e ganhos de 53% em criatividade. Isso significa menos esforço manual em processos de crédito, compliance e atendimento, e mais tempo para inovação e relacionamento.
O caminho para essa transformação passa por três pilares: governança rigorosa, explicabilidade dos modelos (XAI) e design orientado à AX. Bancos que se anteciparem, construindo ecossistemas de agentes robustos, com camadas claras de segurança, documentação e monitoramento, estarão prontos para liderar a próxima era da hiperautomação financeira. Em vez de sistemas encapsulados ou robôs improvisados, veremos plataformas inteligentes, modulares e autônomas, capazes de operar com fluidez e escala global.
Saulo Santos, Business Vice President no Brasil da GFT Technologies.