A Dinamarca está prestes a se tornar referência global em proteção digital infantil. O governo dinamarquês anunciou uma proposta radical: proibir o acesso de menores de 15 anos às redes sociais. A medida, apresentada pela primeira-ministra Mette Frederiksen durante a abertura do parlamento, acende o debate sobre os limites entre tecnologia, infância e saúde mental.
A solidão digital dos jovens dinamarqueses
Frederiksen foi direta ao apontar o problema: as plataformas sociais estão “roubando a infância” das crianças. Os números justificam a preocupação. Segundo dados apresentados pelo governo, 60% dos garotos entre 11 e 19 anos passam uma semana inteira sem encontrar nenhum amigo pessoalmente durante o tempo livre. A tela substituiu o recreio, os jogos de rua e as conversas cara a cara.
Como a lei funcionaria na prática
A proposta não é absoluta. Pais e responsáveis poderão autorizar o uso de redes sociais a partir dos 13 anos, mantendo a decisão final dentro do núcleo familiar. Essa flexibilização busca equilibrar proteção estatal e autonomia parental — reconhecendo que cada família tem dinâmicas e necessidades diferentes.
A medida se soma à proibição de celulares em escolas primárias, aprovada em setembro. Juntas, as iniciativas formam uma estratégia coordenada para reduzir o tempo de tela e resgatar a presença física no desenvolvimento infantil.
O preço da hiperconexão
Frederiksen destacou consequências concretas: dificuldades de concentração, problemas de leitura e exposição a conteúdos inadequados. Mas o impacto vai além. Dados da OMS em parceria com a Universidade Johns Hopkins revelam que um em cada sete adolescentes entre 10 e 19 anos enfrenta transtornos de saúde mental. Em um terço dos casos, os sintomas surgem antes dos 14 anos — justamente o período de maior vulnerabilidade digital.
O relatório, publicado no Journal of Adolescent Health, aponta que condições psicológicas representam 16% da carga global de doenças nessa faixa etária. O problema é agravado pela subnotificação: a maioria dos casos não é identificada nem recebe tratamento adequado.
Redes Sociais e saúde Mental: a conexão perigosa
Especialistas em desenvolvimento infantil alertam para efeitos em cadeia. O uso prolongado de dispositivos compromete interações sociais presenciais, fundamentais para aprender empatia e resolver conflitos. Algoritmos que priorizam engajamento expõem crianças a conteúdos sensacionalistas, violentos ou distorcidos — moldando percepções de mundo em formação.
A interferência nos padrões de sono fecha o ciclo. Telas antes de dormir suprimem melatonina, reduzem sono REM e aumentam ansiedade. O resultado é um coquetel tóxico: menos descanso, mais irritabilidade, pior desempenho escolar e maior risco de depressão.
A Dinamarca como laboratório global
A proposta dinamarquesa pode inspirar outros países. França, Reino Unido e Austrália já discutem medidas similares. O desafio é implementação: como fiscalizar? As plataformas colaborarão? VPNs não tornarão a lei ineficaz?
Críticos argumentam que proibir não ensina alfabetização digital — competência essencial no século XXI. Defendem educação sobre uso consciente em vez de restrições. Já apoiadores ressaltam que crianças não têm maturidade para enfrentar ecossistemas projetados por neurocientistas comportamentais para viciar.
O que está em jogo é simples: qual infância queremos para a próxima geração? A resposta da Dinamarca é clara — e controversa.
O país nórdico não está isolado nessa preocupação. No final de setembro, legisladores dinamarqueses já haviam aprovado a proibição do uso de celulares nas escolas primárias, alinhando-se a uma tendência crescente de países que buscam reduzir a exposição de crianças ao ambiente virtual e seus potenciais riscos.
De acordo com Frederiksen, muitas crianças hoje enfrentam dificuldades de concentração e leitura, além de serem expostas a conteúdos inapropriados nas redes sociais. “A nova lei significará cuidar melhor das crianças na Dinamarca”, defendeu a primeira-ministra durante seu discurso.
Impactos do uso excessivo de redes sociais na saúde mental
A iniciativa da Dinamarca é respaldada por uma crescente base de evidências científicas. Um estudo recente da OMS em parceria com a Universidade John Hopkins, publicado no Journal of Adolescent Health, aponta que um em cada sete adolescentes entre 10 e 19 anos enfrenta algum tipo de problema de saúde mental.