Empresas de software e a agenda da sustentabilidade: do discurso à prática para gerar impacto real

há 1 semana 14

As discussões sobre questões climáticas já ultrapassaram a fase do discurso e da comunicação institucional. Hoje, tratam-se de um eixo estratégico essencial para a competitividade global. No setor de tecnologia, especialmente nas empresas de software, o tema ganha ainda mais relevância. Não basta reduzir emissões de carbono ou publicar relatórios anuais: é preciso repensar como a inovação digital pode gerar impacto real e mensurável na sociedade. Questões como a governança ética de dados, a privacidade dos usuários, a segurança cibernética, a eficiência energética de data centers e a promoção da inclusão digital são hoje dimensões centrais da agenda ESG (Environment, Social and Governance) aplicada ao universo do software.

Em 2025, esse debate ganha destaque em um dos encontros mais importantes do calendário de tecnologia, em São Paulo, sob o tema "Fronteiras Digitais: Geopolítica, Tecnologia e Sustentabilidade". A proposta é ir além da teoria e provocar reflexões práticas sobre como transformar a convergência entre inovação, sustentabilidade e regulação em resultados concretos. Entre os pontos em pauta estão o desenvolvimento de algoritmos livres de vieses, a ampliação de programas de capacitação tecnológica para populações vulneráveis, a criação de políticas públicas que incentivem investimentos verdes e a necessidade de garantir que a inteligência artificial evolua de forma ética e transparente.

Essa convergência entre tecnologia, sustentabilidade e geopolítica já não é uma tendência futura, mas uma realidade que redefine a atuação das empresas de software. O desafio agora é estruturar processos internos e estratégias de negócio que traduzam compromissos ESG em resultados verificáveis. Isso significa adotar métricas claras de impacto socioambiental, fortalecer a governança de dados, avaliar fornecedores e parceiros sob critérios éticos e ampliar iniciativas de inclusão digital. Mais do que campanhas pontuais, é necessário criar mecanismos permanentes de governança que alinhem inovação digital à responsabilidade social e ambiental.

O Estudo Mercado Brasileiro de Software 2025, realizado pela ABES em parceria com a IDC, reforça esse cenário: o setor movimentou US$ 59 bilhões em 2024, consolidando o Brasil como a décima maior economia de TI do mundo e responsável por 35% dos investimentos em tecnologia da América Latina. A expectativa de crescimento de 9,5% em 2025, acima da média mundial de 8,9%, mostra que há espaço para expansão — mas também amplia a responsabilidade. Um mercado dessa dimensão não pode se restringir a discursos. O próximo passo é transformar a liderança econômica do Brasil em referência global de práticas sustentáveis, inclusivas e transparentes.

O futuro da indústria de software brasileira dependerá não apenas da sua capacidade de inovar e competir, mas também de demonstrar, na prática, que crescimento econômico pode e deve caminhar junto com impacto socioambiental positivo.

Rodolfo Fücher, vice-presidente do Conselho da ABES.

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