Os golpes digitais atingiram um patamar alarmante no Brasil, com 24 milhões de brasileiros caindo em fraudes envolvendo Pix e boletos falsos nos últimos 12 meses. A informação, revelada por uma pesquisa conjunta do Datafolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que essas vítimas sofreram um prejuízo médio de R$ 1.198, resultando em um rombo total estimado em R$ 29 bilhões na economia brasileira.
O levantamento aponta para uma transformação significativa no cenário de crimes patrimoniais no país. Enquanto os roubos presenciais têm registrado queda, as fraudes online crescem em ritmo acelerado, atingindo principalmente pessoas de maior poder aquisitivo.
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A pesquisa demonstra que 46,4 milhões de brasileiros reportaram ter recebido mensagens ou ligações fraudulentas durante o período analisado. Muitas dessas abordagens simulavam centrais de segurança de bancos ou empresas conhecidas, técnica cada vez mais utilizada para enganar consumidores e obter acesso a dados pessoais e financeiros.
Contrariando o senso comum, os criminosos virtuais têm preferido alvos com maior poder aquisitivo. A pesquisa identificou que 37% das vítimas pertencem às classes A e B, enquanto 22% estão nas classes C, D e E. Isso sugere uma estratégia deliberada dos fraudadores em mirar pessoas com maior capacidade financeira, maximizando os ganhos ilícitos.
A conexão entre roubo de celulares e fraudes online
Um dado preocupante revelado pelo estudo é a forte correlação entre roubo de aparelhos móveis e golpes digitais. Cerca de 9,3% da população brasileira teve seu celular roubado ou furtado no período analisado, e essas pessoas apresentam quase quatro vezes mais chance de sofrer fraudes online posteriormente.
Entre aqueles que tiveram seus dispositivos levados, 35% acabaram caindo em golpes envolvendo Pix ou boletos falsos. Isso demonstra que o roubo físico de celulares frequentemente serve como porta de entrada para crimes digitais mais complexos e lucrativos, configurando uma verdadeira cadeia criminosa.
O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, explica que o aumento dessas fraudes está diretamente relacionado à ampla disponibilidade de dados pessoais vazados. “Todo mundo tem isso vazado. Hoje você aluga por bitcoin, acessa a vida de todo mundo. Aí baixam aquilo, fazem um robô e vão ligando para os celulares”, alerta.
A situação é agravada pela falta de preparo das instituições públicas para lidar com essa nova realidade criminal. “O Estado está pouquíssimo aparelhado para lidar com isso, inclusive em termos legais e de cooperação entre estados, União e municípios”, critica Lima.
O novo perfil das vítimas e a mudança no cenário criminal
Os números apresentados pela pesquisa confirmam uma mudança significativa no panorama criminal brasileiro. Os crimes digitais já superam os presenciais em incidência: 33% dos entrevistados afirmaram ter sido vítimas de algum tipo de fraude online, enquanto 22% relataram ter sofrido crimes presenciais como roubo ou assalto.
O perfil das vítimas também varia conforme o tipo de golpe. Pessoas entre 29 e 60 anos, com maior escolaridade e pertencentes às classes A e B, são os alvos preferenciais das fraudes envolvendo Pix e boletos falsos. Já os jovens de 16 a 24 anos tendem a ser mais afetados por golpes relacionados a compras pela internet que nunca são entregues, com incidência de 23%, acima da média nacional de 18%.
Entre os idosos, as fraudes bancárias como acesso não autorizado a contas correntes ou poupanças atingem 11% desse grupo populacional. O estudo também projeta que vazamentos de dados afetaram aproximadamente 12,3 milhões de pessoas (7,3% da população), criando um ambiente fértil para a atuação de organizações criminosas.
A pesquisa aponta ainda que facções como o PCC e o Comando Vermelho têm operado verdadeiras “linhas de produção” de crimes digitais, com alto potencial para lavagem de dinheiro e integração com outras atividades ilícitas. Este cenário complexo exige uma resposta coordenada das autoridades e maior conscientização da população sobre medidas de segurança digital.