Estamos vivendo mais um ponto de inflexão na nossa evolução tecnológica. Como em outras revoluções importantes de nossa história, temos a possibilidade concreta de ampliar nossas capacidades humanas em escala, dessa vez com o uso de inteligência artificial (IA), robótica e outras tecnologias emergentes dentro de um ecossistema de colaboração. O salto é tão grande que não são poucos que acreditam que as pessoas se tornarão obsoletas. Mas a verdade é que o uso dessas tecnologias não pressupõe a substituição de pessoas por máquinas, mas algo muito mais poderoso: criar os chamados humanos aprimorados.
O relatório Technology Foresight 2025, da NTT DATA, aponta esse conceito como uma das tendências mais transformadoras da década. Ele descreve a colaboração entre humanos e máquinas em que tecnologias como IA generativa, digital twins, robótica pessoal e agentes de IA se somam às nossas habilidades, elevando a produtividade, a qualidade das decisões e a segurança em ambientes de trabalho. Não se trata apenas de automatizar tarefas, mas de reconfigurar o que significa ser humano no trabalho.
Para isso, temos uma jornada que une os diversos papeis das tecnologias. A IA generativa nos apoia na expansão da nossa inteligência, seja ao acelerar uma análise de cenários complexos, seja ao criar soluções antes inimagináveis no cotidiano. Enquanto isso, os agentes de IA começam a atuar como colaboradores digitais, negociando, resolvendo problemas e até ensinando determinados processos. Nessa construção, os digital twins — réplicas digitais de processos, produtos ou sistemas — chegam para simular e testar possibilidades com precisão e rapidez. Já a robótica incorpora força, velocidade e resiliência, assumindo atividades de risco e abrindo espaço para que pessoas foquem em papéis mais criativos e estratégicos.
Todos esses passos dentro do ecossistema apontam para uma nova infraestrutura global, onde capacidades humanas e tecnológicas se reforçam. No entanto, a promessa não é isenta de desafios. A convergência dessas tecnologias exige requalificação massiva da força de trabalho, novas estruturas de governança e atenção redobrada a temas como ética, privacidade e impacto social. Ignorar esses aspectos é tão arriscado quanto não investir em inovação.
O futuro do trabalho, portanto, não será definido pela substituição, mas pela simbiose entre pessoas e máquinas. Para isso, é importante o letramento em tecnologia. Empresas que ainda enxergam tecnologia apenas como ferramenta de ganho de eficiência estão perdendo a essência dessa revolução: trata-se de reimaginar processos, papéis e até a cultura organizacional. Estamos diante de uma oportunidade inédita: enquanto a IA amplia nossa inteligência, a robótica incorpora ao humano atributos de força e velocidade. Essa convergência nos coloca diante de um horizonte em que o talento humano pode ser multiplicado em vez de diminuído.
A provocação que fica é simples: quantas empresas brasileiras estão realmente prontas para assumir esse futuro agora? Não se trata de esperar pela maturidade da tecnologia ou pela pressão competitiva. Esse movimento será imediato. Quem liderar a integração de IA e robótica ao trabalho humano terá a vantagem de moldar novos mercados, atrair talentos e criar valor em escala. Quem adiar essa decisão corre o risco de ficar preso a modelos de negócio obsoletos.
A visão de humanos aprimorados não é uma hipótese distante, mas uma agenda estratégica urgente a ser adotada.
Por Cauê Dias, Head de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento da NTT DATA Brasil.
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