Identidade: a última fronteira da segurança em 2026

há 2 dias 5

Imagine o seguinte: você investiu milhões em uma infraestrutura robusta de segurança, firewalls de última geração, segmentação de rede, monitoramento constante. É como uma fortaleza medieval, com muros altos, fossos profundos e torres de vigia em cada canto. Tudo parece impenetrável. Mas há um detalhe fatal que você ignorou: o inimigo não está tentando escalar seus muros. Ele enganou um dos guardas, obteve uma cópia da chave mestra (a credencial de um colaborador) e entrou pela porta da frente, sorrindo.

Essa analogia representa com precisão a estratégia tradicional de segurança da informação, baseada em defesa perimetral e controle de rede. Há alguns anos esse modelo fazia sentido: os dados estavam centralizados, os acessos eram locais, e o perímetro da rede era bem definido. Mas em 2026, essa abordagem já não é suficiente e pode ser perigosamente enganosa. O problema não está nos muros, está nas chaves. E essas chaves são as credenciais dos usuários, muitas vezes mal protegidas, compartilhadas ou expostas em vazamentos de dados.

Com a expansão da nuvem, do trabalho remoto e da mobilidade, o perímetro tradicional se dissolveu. Onde antes tínhamos um castelo, hoje temos um império descentralizado, com postos avançados nas residências de cada colaborador. Seus notebooks e smartphones são agora pontos de entrada para os sistemas corporativos e precisam ser protegidos como parte do ecossistema digital da empresa.

É exatamente aí que o jogo mudou, os criminosos entenderam que o caminho de menor resistência não é atacar a infraestrutura, mas sim manipular o portador da chave. Os números não mentem: milhões de brasileiros já foram vítimas de golpes virtuais. Essa não é mais uma ameaça doméstica distante, e sim a porta de entrada para a sua empresa.

O fator humano está presente na maioria das violações de dados. Segundo relatórios recentes, cerca de 68% dos incidentes envolvem erro humano, e 31% das violações na última década tiveram como vetor inicial o uso de credenciais comprometidas. Quando um colaborador reutiliza a mesma senha do e-mail pessoal em uma plataforma corporativa, uma fraude que começou com uma falsa promoção pode terminar paralisando toda a operação. Um ataque bem-sucedido baseado em credenciais custa, em média, US$ 4,81 milhões, sem contar os danos à reputação. A distinção entre golpe pessoal e incidente corporativo já não existe. A credencial é hoje um dos principais pontos críticos da segurança digital.

A nova estratégia: Zero Trust e segurança baseada em identidade

Proteger esse novo cenário exige uma mudança de mentalidade. A defesa precisa ser ativa, baseada na filosofia Zero Trust. A premissa "nunca confie, sempre verifique" é simples, mas poderosa. A nova fronteira é formada por três elementos: identidade, dispositivo e comportamento.

Para líderes e C-Levels, a estratégia se divide em três pilares:

Portões inteligentes com autenticação robusta e adaptativa

Implementar Autenticação Multifator (MFA) em todos os acessos

Evoluir para métodos contextuais e, futuramente, tecnologias sem senha, como passkeys

Distribuição segura de chaves com gestão de identidades e privilégios mínimos

Controlar rigorosamente quem acessa o quê

Eliminar contas órfãs e permissões excessivas

Garantir que ninguém tenha uma "chave mestra"

Monitoramento contínuo e resposta proativa

Correlacionar eventos como phishing e logins suspeitos

Detectar ataques em tempo real e bloquear acessos antes que o dano ocorra

Para todos os usuários, a prática diária é igualmente fundamental: não reutilizar senhas, desconfiar de contatos inesperados e entender que todos somos alvos de ataques cada vez mais personalizados.

A segurança começa com pessoas, não com muros

Em 2026, a segurança não será mais sobre construir muros mais altos. Será sobre garantir que somente as pessoas certas tenham as chaves certas, para as portas certas, nas condições certas. A boa notícia? A tecnologia para isso já existe e está madura.

A chamada à ação para todo líder é clara: pare de olhar apenas para os muros, volte sua atenção para os portadores das chaves e transforme a gestão de identidade na prioridade estratégica da sua agenda de segurança.

Faça isso, e você transformará a credencial do seu colaborador de seu ponto mais fraco no pilar mais forte da sua defesa.

Ramon Ito, Chief Identity Officer da Asper.

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