Nos últimos anos, a digitalização dos serviços financeiros transformou a experiência do consumidor, mas todo este avanço digital também ampliou os vetores de fraude. No Brasil, um estudo realizado pela Folha de S.Paulo entre abril e julho de 2025 avaliou 15 aplicativos de instituições financeiras sob sete critérios de segurança, incluindo verificação de identidade, prova de vida no reconhecimento facial e uso de biometria em transações. O resultado expôs falhas importantes: em cinco delas, foi possível abrir conta sem apresentar documentos básicos; em outras, a prova de vida era vulnerável, o que deixa brechas para ataques com fotos e vídeos.
Esse cenário é especialmente preocupante diante do aumento significativo dos crimes relacionados a fraudes digitais, que atingem proporções alarmantes no país. A pressão por onboarding rápido e jornadas digitais fluidas não pode se sobrepor à proteção do cliente e à reputação das instituições. É nesse ponto que soluções de liveness detection inteligente, especialmente liveness with movement, ganham protagonismo.
Grande parte das instituições brasileiras adota mecanismos básicos de reconhecimento facial. Entretanto, criminosos já exploram essas limitações com ferramentas conhecidas como "burladores de selfie", vendidas nas redes sociais. Essas aplicações simulam movimentos simples e enganam sistemas que se baseiam apenas em fotos ou vídeos bidimensionais.
A falta de tecnologia robusta permite que fraudadores usem dados vazados ou imagens públicas para criar identidades falsas, abrir contas e movimentar valores. Isso não é uma exclusividade do Brasil, mas, em um mercado com mais de 900 instituições habilitadas ao Pix, o risco escala rapidamente.
O futuro da autenticação
O liveness inteligente valida a presença real do usuário em uma única captura, sem exigir gestos ou movimentos. A solução analisa medidas faciais, padrões de iluminação, reflexos e microtexturas para diferenciar uma pessoa viva de fotos, telas ou vídeos reproduzidos. Essa abordagem reduz drasticamente as chances de fraude, pois torna inviável o uso de imagens estáticas ou vídeos prontos, detectando sinais vitais e garantindo que há uma pessoa real diante da câmera. Ao contrário de selfies simples, essa tecnologia cria uma barreira praticamente intransponível para deepfakes e spoofing.
Em países como Índia e Singapura, reguladores já incentivam o uso dessas técnicas em processos KYC (Know Your Customer), especialmente após a explosão dos pagamentos digitais. No Reino Unido, bancos e fintechs adotaram liveness como requisito para abertura de conta, alinhando-se a padrões de segurança internacionais.
Verificação e autenticação em tempo real: agilidade com segurança
Outro ponto crítico é a velocidade. Processos manuais ou que exigem upload e análise posterior não acompanham a expectativa do usuário digital. Experiências fluídas, sem sacrificar a segurança, são essenciais para que a fricção excessiva não leve ao abandono do processo.
Nos fluxos de verificação de liveness, a sequência se adapta conforme necessário: durante o onboarding, a checagem de liveness é seguida pela verificação – a selfie é comparada com uma imagem facial previamente registrada em um documento de identificação oficial, sistema de registro ou base de dados governamental para validar a identidade. Para acessos ou logins recorrentes, a mesma checagem de liveness leva à autenticação, em uma comparação 1:1 para confirmar que o titular da conta é o mesmo usuário registrado.
Brasil no mapa global de prevenção a fraudes
Embora muitas instituições financeiras brasileiras já invistam em inteligência artificial para analisar padrões de comportamento, é hora de elevar o patamar. Reguladores, instituições e provedores de tecnologia precisam convergir para criar um ecossistema mais resiliente, com padrões obrigatórios de liveness robusto.
Mario Cesar, Vice-Presidente LATAM da Aware, Inc.
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