O papel da blockchain e da inteligência artificial na auditoria de informações ESG

há 4 dias 16

No mercado atual, não basta prometer: é preciso provar. Quando falamos de práticas ambientais, sociais e de governança (ESG), a confiança se tornou um recurso escasso. Relatórios cheios de boas intenções não bastam mais. Eles querem evidências concretas de que os compromissos assumidos são reais, auditáveis e comparáveis. Não por acaso, uma pesquisa da PwC mostrou que 98% dos investidores brasileiros acreditam que os relatórios corporativos têm greenwashing. A lacuna entre discurso e prática segue sendo o maior desafio. Investidores, reguladores e consumidores querem evidências concretas de que os compromissos assumidos pelas empresas são reais e mensuráveis.

Esse vácuo de credibilidade pode se tornar ainda mais crítico diante das novas regulamentações que entram em vigor nos próximos anos, como a CSRD europeia e as regras da SEC nos Estados Unidos. No Brasil, a agenda de sustentabilidade ganha força em debates ligados à COP30 e às pressões por maior transparência na cadeia de suprimentos. Empresas que não conseguirem comprovar seus dados correm risco não apenas de multas ou processos, mas de danos reputacionais e perda de competitividade.

Por conta desse cenário, o blockchain e a inteligência artificial se tornam alicerces para uma nova forma de auditar a sustentabilidade corporativa.

O blockchain atua como um livro-razão digital imutável, garantindo que cada registro inserido, da origem da matéria-prima ao destino final do produto, seja rastreável e inviolável. No setor da moda, por exemplo, já é possível seguir o 'fio digital' de uma camiseta: do algodão cultivado, passando pela tinturaria e fábrica, até chegar ao consumidor. Esse nível de transparência elimina brechas para greenwashing e fortalece a confiança entre empresas, fornecedores e clientes. O mesmo raciocínio vale para o setor de alimentos, no qual é possível rastrear ingredientes desde a fazenda até a prateleira do supermercado, assegurando padrões de qualidade e sustentabilidade.

A inteligência artificial, por sua vez, dá vida a esse oceano de dados. Ela permite auditar informações em tempo real, cruzando indicadores de fornecedores, consumo de energia e uso de recursos hídricos, por exemplo. Se um fornecedor reporta baixo consumo de água, mas está localizado em uma região de escassez hídrica, o algoritmo pode sinalizar essa inconsistência imediatamente. Mais do que isso: a IA ajuda a adaptar relatórios a diferentes marcos regulatórios, economizando tempo e reduzindo erros em processos que, manualmente, seriam inviáveis.

Combinadas, blockchain e IA criam um modelo de compliance contínuo e dinâmico. Dados não apenas são coletados, mas validados, auditados e reportados em ciclos constantes. Isso muda o jogo. Em vez de relatórios anuais que rapidamente se tornam obsoletos, as empresas passam a operar em um regime de comprovação permanente.

Mas o impacto vai bem além do compliance. Tecnologias de confiança radical como blockchain e IA podem redefinir modelos de negócio. Marcas de moda podem usar a rastreabilidade como diferencial competitivo, agregando valor à transparência. Indústrias alimentícias podem transformar segurança e sustentabilidade em argumentos de marca. Investidores, por sua vez, terão mais clareza para diferenciar empresas realmente comprometidas de iniciativas de fachada.

Isso tudo demonstra que a era do discurso está acabando. Entra em cena a era da comprovação. Empresas que entenderem isso cedo não apenas ganharão vantagem competitiva, mas também terão um papel ativo em estabelecer os padrões da próxima geração de negócios sustentáveis.

O próximo passo não é mais se perguntar se blockchain e IA devem ser adotadas, mas como integrá-las de forma estratégica, antes que a falta de credibilidade custe caro demais através de multas, escândalos reputacionais e não acesso a crédito ou fundos de investimento.

Por André Salem, fundador da Blockforce.

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