A Polícia Civil do Rio Grande do Sul iniciou na manhã de quarta-feira dia 01/10 a Operação Modo Selva, uma ação de grande escala para combater uma sofisticada organização criminosa especializada em estelionatos virtuais e lavagem de dinheiro que operava em todo o território nacional. A quadrilha utilizava tecnologia de IA, incluindo deepfakes de celebridades, para impulsionar falsas campanhas de vendas em redes sociais, lesando milhares de consumidores com a promessa de produtos em troca apenas do pagamento do frete, ou por meio de plataformas falsas de apostas. As investigações resultaram na desarticulação de um esquema que movimentou mais de R$ 20 milhões.
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O modus operandi da organização criminosa consistia em uma complexa fraude eletrônica. Os golpistas utilizavam vídeos e áudios manipulados de personalidades famosas, como a supermodelo Gisele Bündchen, para anunciar falsos produtos cosméticos ou a promoção de itens como malas de viagem, onde o comprador arcaria apenas com a taxa de frete, que geralmente variava entre R$ 20 e R$ 100.
As vítimas, atraídas pelo falso endosso da celebridade e pelo baixo valor, eram direcionadas a sites fraudulentos onde forneciam dados pessoais e efetuavam o pagamento via Pix. O dinheiro era rapidamente lavado por meio de empresas fantasmas e contas de “laranjas”, incluindo identidades de idosos. De acordo com a delegada Isadora Galian, o sucesso do golpe residia no fato de a maioria das vítimas não denunciar o prejuízo. “Eles sabiam que a maioria das pessoas não denunciaria, e então operavam em massa sem medo”, explicou, mencionando a “imunidade estatística” que blindava os criminosos.
A Operação Modo Selva foi deflagrada em cinco estados diferentes – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo (nas cidades de Piracicaba e Hortolândia), Bahia e Pernambuco. Foram cumpridos 09 mandados de busca e apreensão e 07 mandados de prisão preventiva, resultando na prisão de quatro pessoas.
A estrutura do grupo era bem definida e hierarquizada, contando com líder intelectual, operador financeiro, facilitador de pagamentos e uma “influenciadora do crime”. Além da fraude direta, a organização também capitalizava recursos através de uma plataforma falsa de apostas e, de forma audaciosa, mantinha um perfil de mentoria em redes sociais para ensinar técnicas de golpes digitais, multiplicando a rede criminosa. O bloqueio de ativos, incluindo 10 veículos de luxo (como Porsche Cayenne S e Range Rover Velar), 21 aplicações financeiras e carteiras de criptoativos, atingiu um montante que pode chegar a R$ 210 milhões, indicando o alto poder de movimentação financeira obtido com os estelionatos. Os criminosos ostentavam esse estilo de vida nas redes sociais, utilizando-o como vitrine para atrair mais seguidores e vítimas.