Na manhã de 20 de setembro, passageiros em Bruxelas enfrentaram filas intermináveis. Em Londres, Heathrow operava parcialmente. Em Berlim, voos foram cancelados sem previsão de retorno. O que parecia um problema técnico era, na verdade, um ataque de ransomware contra um fornecedor de software de check-in e bagagens. Três dias depois, o caos ainda se espalhava pela Europa.
Quando um fornecedor derruba um continente
A falha começou na Collins Aerospace, gigante global que fornece sistemas a centenas de aeroportos. Um único ataque foi suficiente para paralisar operações críticas em vários países e revelar uma verdade desconfortável: a vulnerabilidade não está mais nas "fronteiras digitais" de cada organização, mas na interdependência invisível que conecta todo o ecossistema. No fim, não foi apenas um aeroporto atacado. Foi a confiança no transporte aéreo europeu que ficou de joelhos.
O Brasil cabe nessa equação?
A aviação brasileira, assim como energia, finanças e telecom, também depende de fornecedores globais e de softwares de missão crítica. Se amanhã um ataque semelhante atingir um sistema de despacho ou de controle de tráfego por aqui, a questão não será "quantos voos atrasaram", mas sim:
- quanto da economia parou,
- quantas cadeias produtivas foram afetadas,
- quão rápido a confiança do público e dos investidores evaporou. Um ataque contra um aeroporto não atrasa apenas passageiros. Ele atrasa o PIB.
A nova métrica: resiliência nacional
Nos últimos anos, a conversa sobre cibersegurança girou em torno de "defesa". O episódio europeu mostra que precisamos ir além. Já não se trata apenas de proteger sistemas. O desafio agora é proteger a continuidade de países inteiros. Três lições ficam claras:
- Terceirizar não é transferir risco. Fornecedores críticos devem ser tratados como parte da superfície de ataque.
- Governança é tão importante quanto tecnologia. Planos de continuidade, simulações de crise e visibilidade da cadeia digital são a diferença entre atrasos controlados e colapso sistêmico.
- Reputação é ativo estratégico. Nos aeroportos europeus, passageiros ficaram horas sem informação. A incerteza corroeu a confiança mais rápido que o malware.
A tese central: ransomware é um problema de Estado
O que vimos na Europa foi um teste de estresse involuntário. Um ataque a um único elo expôs a fragilidade de toda a infraestrutura aérea. No Brasil, setores como aviação, energia e telecom são igualmente interdependentes e, portanto, igualmente vulneráveis. O recado não poderia ser mais claro: cibersegurança já não é apenas responsabilidade de CIOs e CISOs. É uma questão de soberania nacional.
Conclusão
Ransomware não atrasa voos. Atrasa negócios, economias e países inteiros. O Brasil precisa decidir agora se vai esperar para ser a próxima manchete ou se vai tratar resiliência digital como um pilar estratégico de competitividade e crescimento sustentável.
Por Fábio Amaro, Diretor Executivo da Security4IT
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