Resiliência na cadeia de suprimentos: transformando vulnerabilidade em força

há 6 dias 9

À medida que as cadeias globais de suprimentos se tornam mais complexas, as organizações precisam priorizar a resiliência e a segurança dos dados para enfrentar riscos e interrupções cada vez mais desafiadores.

Quando se fala em resiliência na cadeia de suprimentos, a atenção normalmente se concentra em logística, infraestrutura ou diversificação de fornecedores. Mas como essas cadeias hoje dependem fortemente de sistemas digitais, ser resiliente significa também ter visibilidade sobre esses sistemas. Isso envolve compreender o que está acontecendo em tempo real, acompanhar os fluxos de dados que sustentam as operações e, sobretudo, estar preparado para reagir de forma eficaz quando algo dá errado.

O problema é que muitos desses sistemas ainda funcionam em ambientes opacos, sustentados por softwares desatualizados, integrações complexas ou componentes de terceiros que poucos dentro da organização dominam de fato. Esse cenário torna difícil identificar vulnerabilidades ou realizar uma recuperação eficiente após uma interrupção. Sem clareza sobre como os sistemas funcionam e interagem, o processo de retomada se torna incerto e o risco aumenta. Não é teoria: levantamentos recentes mostram que apenas metade das empresas consegue cumprir seus objetivos de tempo de recuperação (RTOs) em situações reais de crise, mesmo com investimentos significativos em backup e continuidade. Muitas acreditam estar prontas, até descobrirem, no meio do problema, que não estavam.

Essa falta de visibilidade é ainda mais evidente em empresas onde a área de tecnologia da informação (IT) e a de tecnologia operacional (OT) atuam de forma isolada. A ausência de comunicação e de responsabilidades compartilhadas entre os times atrasa respostas, dificulta recuperações e abre espaço para pontos cegos. Nesse cenário, a visibilidade deixa de ser uma vantagem e se torna requisito fundamental de continuidade de negócios.

Visibilidade como pilar da resiliência

Garantir que os sistemas estejam "no ar" já não é suficiente. Resiliência de verdade exige entender como esses sistemas se comportam sob pressão e de que forma a falha de um deles afeta toda a cadeia de suprimentos. A visibilidade é peça-chave: não se trata apenas de detectar quando algo quebra, mas de conhecer as plataformas em uso, os pontos de dependência de terceiros e as interações entre componentes em tempo real. Sem essa consciência situacional, antecipar falhas e planejar a recuperação é quase impossível.

O desafio é que muitas organizações convivem com uma complexidade que nunca foi examinada a fundo. Camadas de software herdado, infraestrutura legada e ferramentas de fornecedores isolados escondem o que realmente está em risco. Quando surge uma falha, as equipes frequentemente precisam agir às cegas, desperdiçando um tempo precioso.

Um fator que contribui para esses pontos cegos é a presença dos chamados "black box systems" — ambientes tecnológicos em que entradas e saídas são visíveis, mas o funcionamento interno não. Seja pela falta de documentação, pelo controle de terceiros ou por limitações de design, esses sistemas criam incerteza. Em uma crise, até identificar a causa de uma queda pode ser um grande desafio. Se as equipes não entendem como um sistema funciona ou se conecta a outros, os esforços de recuperação podem parar antes mesmo de começar.

A situação se agrava em setores onde IT e OT são desconectados, como manufatura, logística e indústrias intensivas em cadeia de suprimentos. Quando sistemas operacionais não se comunicam com plataformas digitais mais novas, ou quando a responsabilidade é difusa entre áreas, a visibilidade se perde, e com ela, a resiliência.

Da prevenção à prontidão para recuperação

As estratégias modernas de resiliência precisam dar tanta importância à recuperação quanto à prevenção. Não basta saber como um sistema pode falhar: é essencial entender quanto tempo de interrupção é tolerável e em quanto tempo a funcionalidade pode ser restaurada. Isso significa mapear dependências, testar regularmente em condições reais e se preparar para cenários diversos, inclusive aqueles em que parceiros externos podem não responder com a agilidade esperada.

Soluções de backup são fundamentais, mas sem uma visão completa das interdependências, a recuperação pode emperrar. A resiliência, afinal, não está em restaurar apenas arquivos, mas a operação como um todo. E isso exige preparação baseada em visibilidade.

Maturidade de dados e colaboração integrada

Ampliar a visibilidade requer amadurecer a forma como a organização trata dados e colaboração. É a transição de uma postura reativa para uma consciência proativa dos sistemas. Quando líderes de IT e de supply chain alinham objetivos, é possível desenvolver uma visão mais holística do comportamento dos sistemas e dos riscos de negócio.

Algumas ações críticas incluem:

-Mapear dependências internas dos sistemas;

-Auditar integrações com terceiros;

-Realizar simulações de recuperação;

-Criar documentação e treinamentos para alinhamento interno;

-Incentivar a corresponsabilidade pelos resultados de resiliência.

Quando as equipes falam a mesma língua sobre o comportamento dos sistemas e as necessidades de recuperação, a coordenação sob pressão se torna mais eficiente.

Comece pelo que está sob seu controle

O primeiro passo para construir resiliência na cadeia de suprimentos é enxergar com clareza o ambiente interno. Identificar as aplicações mais críticas, catalogar dependências conhecidas e registrar onde há lacunas de entendimento. A partir daí, testar a capacidade de recuperação e medir a efetividade dos esforços.

Esse trabalho inicial cria a base para melhorias mais amplas e reduz os riscos de ferramentas ou serviços de terceiros que possam falhar em momentos de crise. Fornecedores externos são inevitáveis em cadeias modernas, mas não podem ser uma "caixa-preta". Buscar transparência e garantir que esses sistemas não se tornem pontos únicos de falha é essencial.

Resiliência como prática contínua

Cadeias de suprimentos resilientes não se constroem com intuição — mas com clareza sobre como os sistemas realmente funcionam. Enxergar como eles operam, como podem falhar e como se recuperam é determinante para o planejamento de continuidade no longo prazo. Ao fortalecer a visibilidade interna, estimular a colaboração entre áreas e testar de forma proativa os procedimentos de recuperação, as organizações reduzem incertezas e respondem melhor às crises. A resiliência deixa de ser reativa para se tornar uma prática contínua, previsível e confiável.

Rick Vanover, Vice-presidente de Estratégia de Produtos da Veeam Software.

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