
- YouTube ampliou o uso de IA para estimar a idade dos usuários, bloqueando vídeos para menores de 18 anos e exigindo documentos para comprovação.
- A medida gerou preocupações sobre privacidade, pois envolve dados sensíveis e imagens faciais.
- Segundo o YouTube, a IA interpreta o comportamento do usuário para estimar a idade, alterando as configurações de privacidade e anúncios para menores.
O YouTube começou a restringir massivamente o acesso de usuários com exigência de verificação de idade. A medida ocorre após a ampliação de um novo sistema de inteligência artificial que estima se a conta pertence a um menor de 18 anos. Até agora, os relatos vêm dos EUA e da Europa, sem sinais de bloqueios no Brasil.
Baseando-se no comportamento do usuário, a plataforma bloqueia o acesso a vídeos com restrição de idade e altera automaticamente configurações de privacidade e anúncios. A ferramenta usa dados como o histórico de vídeos assistidos e a idade da conta para a estimativa. Caso o sistema identifique o perfil como sendo de um menor, o usuário é obrigado a enviar uma comprovação.
A exigência e especialmente o uso de dados de cartão de crédito e selfies tem gerado preocupação entre especialistas em privacidade. Desde julho, quando a verificação começou a ser testada, eles questionam a falta de transparência sobre como esses dados sensíveis serão armazenados e protegidos contra vazamentos.
Como funciona a verificação por IA?
Anunciada em julho e testada inicialmente na Europa, a tecnologia que estima a idade por IA chegou aos Estados Unidos em agosto, mas começou a pegar muitos usuários de surpresa. No Reddit, usuários passaram a publicar capturas de tela do momento em que um pop-up aparece.
A notificação diz: “Não conseguimos verificar se você é um adulto”. O usuário, então, tem a opção de continuar sem a verificação e manter a conta restrita ou verificar a idade.
Para que uma conta receba essa notificação, segundo o YouTube, além da data de nascimento informada no cadastro, o sistema usa um conjunto de “sinais”, como o tipo de conteúdo consumido, a atividade e a longevidade da conta. Uma vez que a IA classifica a conta como pertencente a um menor de 18 anos, aplica-se uma série de restrições automáticas:
- Vídeos com restrição de idade são bloqueados;
- As recomendações são ajustadas para minimizar conteúdo “potencialmente problemático”;
- A personalização de anúncios é desativada;
- Ferramentas de bem-estar digital, como lembretes para “fazer uma pausa”, são ativadas por padrão;
- Uploads de novos vídeos são definidos como privados por padrão.
A plataforma justifica que o sistema é necessário para proteger o público mais jovem. No entanto, um dos problemas apontados por alguns usuários é que adultos que assistem a conteúdos voltados para o público infanto-juvenil, como desenhos ou vídeos de jogos, podem ser sinalizados pela IA.
Na outra ponta, o próprio Google assume que a decisão deve impactar alguns criadores. Segundo o post na página de suporte do YouTube, a mudança “pode resultar em uma diminuição na receita de anúncios”, já que a plataforma só exibe anúncios não personalizados para espectadores menores de 18 anos.
Coleta de dados gera desconfiança

A necessidade de fornecer dados sensíveis para reverter a restrição vem gerando polêmica desde o anúncio. Questionado pela Ars Technica, o YouTube confirmou, em julho, que “não retém dados de identidade ou cartão de pagamento para fins de publicidade”.
Contudo, o diretor de liberdades civis da Electronic Frontier Foundation (EFF), David Greene, afirma à Ars Technica que todos os métodos de apelação são ruins. Para ele, a coleta de dados biométricos (selfies) é “ruim, assustadora e inibidora” para usuários que dependem do anonimato, como dissidentes políticos ou vítimas de abuso.
Já Suzanne Bernstein, advogada do Electronic Privacy Information Center (EPIC), reforçou a desconfiança, afirmando que é “difícil” confiar nas promessas de qualquer empresa sobre o uso de dados para outros fins, como aprimorar perfis de usuário ou vender informações a terceiros.
Ainda assim, vale lembrar que a obrigação de verificação de idade e identidade em plataformas como o próprio YouTube e outras redes sociais, como o Instagram e o X/Twitter, vem sendo exigida há algum tempo por defensores de maior responsabilização sobre atos cometidos na internet.
No Brasil, a permissão para que redes sociais exijam documentos de identificação e dados biométricos vem sendo discutida no âmbito da PL das Fake News (PL 2630/2020).
Com informações do 9to5Google
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