Carga tributária, espectro e regulação travam avanço da conectividade na América Latina

há 1 semana 12

Durante painel realizado na Futurecom 2025, executivos do setor de telecomunicações destacaram os principais desafios e oportunidades para o avanço da conectividade na América Latina. A discussão reuniu especialistas que abordaram desde a sustentabilidade financeira da indústria até a transformação digital via IA, IoT, satélites e redes privadas.

Mary Mendez, diretora geral da ASIET, deu o tom da discussão ao afirmar que a América Latina vive um “enorme desafio” com os novos modelos de conectividade, exigindo mudanças profundas nas regras do setor. “É preciso ter regras aplicadas a todos. O custo de espectro, as cargas tributárias e os trâmites com municipalidades dificultam o avanço da infraestrutura”, disse. Segundo ela, o retorno dos investimentos muitas vezes é inferior ao custo de capital, o que compromete a viabilidade da indústria.

Mendez defendeu que o ingresso por usuário não deve ser a principal métrica de análise e elogiou os estudos conduzidos pela Anatel sobre mercado digital, apontando o Brasil como referência para reguladores de outros países da região. “Há uma enorme oportunidade de iniciar um processo integrado de melhora regulatória, e a mudança precisa ser acelerada”, disse.

Potencial de expansão no B2B e conectividade inteligente

Tiago Silveira, sócio da McKinsey, adotou uma visão mais otimista. Ele destacou que cerca de 30% da população da América Latina ainda não tem acesso à banda larga e que o crescimento do mercado B2B na região está entre 5% e 10% ao ano — contra 1% a 2% nos EUA. “Temos que pensar em conectar regiões difíceis de alcançar de forma inteligente, com uso de satélites de órbita baixa (LEO), por exemplo”, afirmou.

Silveira também ressaltou o crescimento dos data centers, que têm avançado 24% ao ano na América Latina — taxa superior à de EUA e Europa — e alertou para os desafios de resiliência e qualidade das redes. “O custo por casa passada é de US$ 50, enquanto nos EUA esse valor chega a ser 30 vezes maior. A infraestrutura está volátil e precisa ser reforçada.”

Ele apontou ainda a necessidade de transformar a operação das empresas de telecom, indo além da redução de custos: “Os operadores precisam atuar como orquestradores de ecossistemas, melhorar a eficiência operacional e transformar toda a cadeia, do backbone ao call center.”

Álvaro Britto, presidente da Ufinet Brasil, reforçou o papel estratégico da conectividade para o desenvolvimento regional. “Temos uma penetração significativa, mas o desafio está no backbone. Faltam redes de transporte para conectar com qualidade grandes e médios centros, especialmente em países com dimensões continentais, como o Brasil.”

Britto mencionou as dificuldades com direitos de passagem e a falta de rotas resilientes como gargalos para o avanço da infraestrutura. “As políticas públicas precisam garantir que não se torne inviável economicamente conectar regiões afastadas. Os reguladores têm papel fundamental nisso.”

ISPs como força regional — e o alerta sobre informalidade

Alex Jucius, cofundador da GIGA+FIBRA, da Colômbia, abordou o fenômeno da expansão dos ISPs na América Latina. Ele destacou que mais de 50% do mercado brasileiro já está nas mãos de provedores regionais. “O Brasil está praticamente universalizado em conectividade. Começamos a atuar na Colômbia em 2022, com piloto em Bogotá, e já expandimos para outras regiões.”

No entanto, Jucius fez um alerta sobre o excesso de informalidade no mercado. “Ter 20 mil provedores, muitos sem licença, sem pagar impostos e com uso irregular de postes, cria uma competição artificial e prejudica quem atua dentro da lei. No Brasil, já vemos grupos armados assumindo essas operações. É preciso rever esse modelo.”

Ele afirmou que o aprendizado com o Brasil está sendo levado a outros países onde a GIGA+FIBRA atua, com foco em evitar distorções e fomentar o crescimento saudável, especialmente no segmento B2B, que cresce a mais de 50% ao ano na Colômbia.

Inovação regulatória como vetor de desenvolvimento

Representando a International Telecommunication Union (ITU), Rodrigo Robles defendeu que a inovação regulatória deve ser central nas agendas governamentais. “Temos normas muito antigas em diversos países da região. O espectro ainda é um desafio, e precisamos de uma abordagem mais coordenada entre reguladores, ministérios de finanças e operadoras.”

Segundo Robles, os marcos legais precisam ser atualizados para refletir as transformações tecnológicas e para garantir que os impactos da regulação sejam mensurados de forma eficaz, contribuindo para a conectividade na América Latina. “Estamos promovendo exercícios com países da região para fomentar a medição de impacto regulatório e a capacitação institucional. A cooperação é essencial.”

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