Nas últimas semanas, participei de diversos eventos e conferências sobre infraestrutura digital e IA, e os debates sobre ESG estão cada vez mais em foco, acelerados pela discussão sobre inteligência artificial. Nessas conversas, ficou evidente a confusão no uso de termos como “carbono neutro”, “clima neutro” e “Net Zero”. Muitas vezes, eles aparecem como sinônimos, mas na prática representam compromissos muito diferentes. Para quem constrói ou depende da infraestrutura digital, essa diferença não é teórica: afeta relatórios de sustentabilidade, decisões de investimento e até a competitividade do setor.

Planos de “carbono neutro” ainda são apresentados como solução definitiva em sustentabilidade, mas na prática isso muitas vezes significa pouca ou nenhuma mudança real — apenas a compra de créditos de carbono. Em alguns casos, há até aumento de emissões, compensado em vez de eliminado. Essa lógica cria a ilusão de avanço, mas não enfrenta a raiz do problema.
O conceito de “carbono neutro” pode ter valor, mas apenas quando usado corretamente: reduzir emissões ao máximo e usar créditos como complemento, não como substituto da redução. E esse pode ser considerado o primeiro estágio dos compromissos e ainda o mais comum, em que a operação segue praticamente igual e as emissões são compensadas via créditos.
O segundo é o “clima neutro”, que amplia o foco para os sete gases de efeito estufa, geralmente nos escopos 1 e 2, com medidas praticamente obrigatórias como uso de energia renovável, refrigeração mais eficiente, substituição de equipamentos e design de prédios sustentáveis.
Já o terceiro é o “Net Zero”, no padrão da SBTi, considerado o mais robusto dos compromissos de sustentabilidade: define metas públicas e auditáveis para reduzir pelo menos 90% das emissões até 2040, cobrindo escopos 1, 2 e 3, e limitando compensações a 10% ou menos — apenas para o inevitável. Até lá, créditos podem ser usados como medida temporária, mas sempre acompanhados de uma trajetória clara de redução.
Essa diferença não é semântica: é estrutural. A demanda digital cresce mais rápido que os prazos regulatórios, e as decisões de hoje terão impacto até 2040 e além.
E esse não é um desafio restrito aos operadores de infraestrutura digital. Ele envolve clientes que decidem onde hospedar cargas, fornecedores que desenvolvem equipamentos mais eficientes, governos que regulam e investidores que direcionam capital. A responsabilidade é de todo o ecossistema.
O caminho é exigente e requer transparência. O equilíbrio entre reduzir emissões e usar compensações de forma responsável definirá quem está de fato avançando. No fim, não se trata apenas de metas ambientais, mas da credibilidade de toda a infraestrutura digital diante de clientes, reguladores e investidores. E, mais do que escolher entre “zeros”, temos que transformar compromissos em mudanças concretas e mensuráveis ao longo do tempo.