Parcerias, soberania e novos modelos movem setor de satélites na América Latina

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Congresso Latinoamericano de Satélites 2025. (Foto: Rudy Trindade/Themapres)

Parcerias, novos modelos de negócios, consolidação de mercado e a busca de países por soberania são fatores que têm mobilizado algumas das principais operadoras de satélites no Brasil e na América Latina. O cenário ficou evidente no último dia do Congresso Latinoamericano de Satélites, encerrado nesta quinta-feira, 9, no Rio de Janeiro.

"Vivemos um momento espetacular na indústria do ponto de vista de inovação, com dezenas de iniciativas de LEO, MEO e GEO buscando trazer mais capacidade ao mercado", resumiu Gustavo Silbert, diretor executivo da Claro empresas (antiga Embratel), em referências às órbitas baixa, média e geoestacionária, respectivamente.

"Assim podemos focar na necessidade do cliente, seja com nossa infraestrutura ou com a terceiros", apontou Silbert, indicando aquela que tem sido uma tônica no setor: parcerias estratégicas entre as empresas tradicionais do setor, e entre as tradicionais e as entrantes.

"Não dá para fazer o serviço sozinho e todos aqui trabalhamos em conjunto", concordou Ricardo La Guardia, vice-presidente de vendas da SES para América Latina, durante o painel com líderes da indústria no evento promovido pela Glasberg Comunicações e por TELETIME.

A própria SES é um exemplo: a operadora tem apostado fortemente no multi-órbita, sobretudo após a aquisição da Intelsat, que permitiu ampliação de portfólio com inclusão de parceiros LEO. Em paralelo, a operadora investiu na Lynk, de direct-to-device (D2D), além de ser uma das integrantes do IRIS², projeto de constelação da União Europeia.

SATELITES PAINEL 10 7093Rodrigo Campos (Foto: Rudy Trindade/Themapres)

Outra integrante da iniciativa europeia, a Eutelsat destaca a busca de países por soberania em conectividade como o principal driver do mercado nos últimos anos. "Os países querem o LEO, mas se cada um lançar sua constelação de baixa órbita, ninguém conseguiria remunerar", afirmou Rodrigo Campos, diretor geral da Eutelsat do Brasil.

A empresa está posicionada no segmento, visto que adquiriu em 2023 a constelação de baixa órbita OneWeb, já operacional no Brasil. De lá para cá, muita coisa na indústria mudou, afirma Campos. "Há dois anos todos aqui eram concorrentes. Agora são meus parceiros; criamos uma rede de parceiros que antes eram competidores".

A soberania também tem movido a estratégia da Hispasat – outra das envolvidas no IRIS², e que também tem conversas com o governo do Brasil. "Somos o único operador que tem acordo com todos os fornecedores possíveis. Temos frota GEO e integramos MEO e LEO", afirmou Luis Vargas, gerente geral de retail da Hispasat no Brasil e Chile.

"Parcerias fazem parte do novo mundo e pressupõem riscos em conjunto", completou o executivo, defendendo cenário onde ofertas possam reunir "o melhor de cada um". O papel do Brasil no desenvolvimento da soberania latino-americana em satélites também foi destacado.

Lançamentos

SATELITES PAINEL 10 7113Dolores Martos (Foto: Rudy Trindade/Themapres)

No caso da Telesat, a aposta passa pela construção de uma constelação LEO, relata Dolores Martos, vice-presidente de vendas na América Latina da empresa canadense. A Lightspeed terá lançamentos a partir de 2026 e quer habilitar serviços no final de 2027, com frota total 156 satélites de baixa órbita que também atenderá o anseio de nações por soberania.

"A torta é suficientemente grande para todos", declarou Dolores, ao sinalizar que há espaço para diferentes players no segmento LEO (hoje dominado pela Starlink). Mais uma vez as parcerias fazem parte do jogo, com destaque para acordo que garantiu a Viasat como uma das primeiras usuárias da Lightspeed.

A própria Viasat esteve presente no debate no Rio de Janeiro. Leandro Gaunszer, diretor-geral da empresa no Brasil, recordou o papel consolidador da operadora desde a compra da Inmarsat. Agora, a companhia vai entrar no mercado de direct-to-device, em parceria com a Space42 (antiga Yahsat).

Ao mesmo tempo, a Viasat tem oito satélites em construção e prepara nas próximas semanas o lançamento do ViaSat-3 Flight 2. O modelo da frota GEO vai cobrir as Américas, ampliando a cobertura inclusive no Brasil e permitindo mais capacidade em segmentos como aviação e backhaul. "A demanda de banda é grande em todas as tecnologias", aponta Gaunszer.

SATELITES PAINEL 10 7207Felipe Saad Lukowiecki (Foto: Rudy Trindade/Themapres)

Felipe Saad Lukowiecki, diretor comercial para as Américas da ABS, concorda que o GEO continuará tendo papel importante. A operadora, contudo, também quer participar do momento multi-órbita. "Somos bastante neutros, e temos parcerias nos Estados Unidos, China, Rússia… Todos nessa mesa são parceiros da ABS em algum lugar. A continuidade do mercado depende sem dúvidas dessas parcerias".

Dona de cinco satélites, a ABS está estudando como substituir um dos artefatos, que tem vida útil até 2029. O modelo pode envolver aliança com governos ou com alguma das concorrentes. "O mercado está sendo ampliado e obrigando players antigos a se reestruturarem. Estamos nos preparando para fazer parte desse jogo", diz Saad.

Em um momento onde a oferta de dados se destaca no setor satelital, também segue existindo espaço para atendimento do mercado de mídia. Gustavo Silbert, da Claro empresas, destacou o massivo projeto de migração para parabólicas digitais na radiodifusão brasileira, onde dois satélites da companhia têm papel relevante. "Temos muito orgulho em participar do êxito da TVRO".

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