Setor satelital mira expansão com regras mais flexíveis e novas órbitas

há 1 semana 14

Painel realizado na Futurecom 2025, hoje, 30, mostrou que o setor satelital está se tornando estratégico para ampliar a cobertura de internet no Brasil. Especialistas destacaram novos modelos de negócio, tecnologias híbridas e regras mais flexíveis da Anatel como motores dessa transformação, que promete integrar redes terrestres e satelitais para levar conectividade a todo o território nacional.

A constelação Starlink, da SpaceX, já opera com mais de 400 mil pontos no Brasil — o dobro da soma dos demais players, segundo destacou o moderador do painel Mauro Wajnberg, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Telecomunicações por Satélite. O avanço reforça a urgência de resposta por parte das incumbents e de uma regulação que mantenha equilíbrio competitivo.

Renato Sales Bizerra Aguiar, gerente de novos negócios da Anatel, reforçou o desafio logístico e econômico da cobertura em um país com a quinta maior área territorial do mundo. “Muitas vezes, temos locais com pequena densidade populacional e alto valor estratégico, como áreas agrícolas, onde a infraestrutura terrestre não se justifica economicamente”, explicou. Hoje, metade das rodovias federais ainda está sem cobertura, o que abre espaço para soluções satelitais em conectividade de logística, monitoramento e segurança.

O patinho feio virou ‘sofisticado’

Leandro Gaunszer, da Viasat, usou uma metáfora curiosa: “O satélite era um patinho feio. Hoje é um negócio fancy.” Ele apontou o caminho do mercado como sendo multi-órbita, dependente da aplicação e uso — e com grandes oportunidades no direct device. Segundo ele, a empresa já atua com foco em IoT para o agronegócio, monitoramento de estradas e logística, drones e até veículos autônomos. “Altos investimentos e a questão geopolítica colocam o setor no centro das estratégias de soberania digital”, completou.

Para Fábio Alencar, presidente da SES DTH, o mercado vai continuar com espaço para as três órbitas (geo, médio e baixa). “Na média órbita estamos crescendo com capacidade e relay das constelações LEO. Já o GEO pode servir como relay para aplicações como IoT, que não exigem altas latências.” Ele vê o direct-to-device como complementar à infraestrutura terrestre e aponta que o maior obstáculo não é técnico, mas sim o preço. “A competição é fundamental para tornar a conectividade via satélite mais acessível.”

Alejandro Guerra Najar, vice-presidente de vendas LATAM da Eutelsat, reforçou que o Brasil é um mercado prioritário para a empresa, com grande sofisticação e foco no segmento corporativo. Ele alertou para o avanço das constelações LEO e o desafio da soberania digital. “Nos próximos cinco anos, podemos ter mais de 60 mil satélites em baixa órbita. Isso exige debate global sobre regulação, segurança e sustentabilidade espacial.”

Já Levi, diretor comercial Telebras, reforçou o papel do satélite como ferramenta de política pública. “Conexão por si só inclui, mas precisamos agregar valor, com conteúdo, serviços e uma estratégia ampla de inclusão digital.” A estatal, que opera em parceria com a Viasat, precisou ampliar capacidade para atender demandas crescentes.

Ricardo Amaral, da Hughes, destacou que a empresa está evoluindo de operadora satelital para integradora de soluções fim a fim. “O que transforma está na ponta. O satélite é meio, e nosso foco é entregar soluções completas para o cliente.”

Os executivos concordaram que com a evolução das tecnologias, integração de órbitas, entrada do direct-to-device e regras mais flexíveis, o setor satelital deixa de ser reserva técnica para se tornar protagonista em conectividade crítica. A convergência com redes terrestres, a ampliação do debate sobre soberania digital e os novos modelos de negócio projetam um futuro onde satélite e terra trabalham juntos. “O direct-to-device é o futuro e, a curto prazo, a tecnologia não vai competir com a conectividade terrestre, mas sim complementar”, finalizou Alencar, da SES DTH.

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