Uso do ChatGPT reflete desigualdades sociais e pode gerar “dívida cognitiva”, avalia pesquisadora

há 2 dias 7

A pesquisadora Jullena Normando, doutora em Comunicação e Inteligência Artificial e com estágio na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), analisa que o avanço do ChatGPT nos próximos anos tende a ser estrutural, com efeitos semelhantes à popularização da internet nos anos 2000, refletindo as desigualdades sociais da sociedade. Em entrevista baseada em estudos recentes de Harvard, Duke, MIT e OpenAI, ela afirma que a ferramenta já se consolidou como apoio cotidiano, mas alerta para riscos de “dívida cognitiva”, quando o usuário terceiriza parte do esforço intelectual e reduz sua própria capacidade de raciocínio.

ChatGPT

Segundo Normando, três usos concentram quase 80% das interações: escrita, busca de informações e orientação prática. No ambiente profissional, a escrita aparece com mais força, sobretudo em tarefas de revisão, resumos e traduções. A pesquisadora ressalta, porém, que a busca de informações merece atenção especial, já que a IA entrega uma resposta única, ao contrário de buscadores tradicionais, que permitem comparação entre múltiplas fontes. “Isso pode comprometer a autonomia crítica e gerar dependência de um sistema que seleciona e sintetiza dados sem transparência”, afirma.

ChatGPT: utilização e desigualdades sociais

O impacto do ChatGPT também varia conforme a renda da população e pode revelar desigualdades sociais, como aponta a pesquisadora. Em países de alta renda e entre profissionais de maior qualificação, o uso está mais associado ao trabalho, como relatórios e apoio à tomada de decisão. Já em países de baixa e média renda, a ferramenta cresce de forma acelerada, funcionando como um atalho de acesso à educação e informação. “Para quem não pode pagar professor particular ou cursos extras, o chat aparece como tutor disponível 24 horas por dia, gratuito ou de baixo custo”, explica.

No entanto, a adoção acelerada nesses contextos também aumenta a exposição a riscos: ausência de curadoria nos dados, reprodução de preconceitos e falta de políticas de alfabetização digital. Para Normando, a governança é essencial, principalmente em áreas sensíveis como o Direito, em que advogados podem ser responsabilizados por peças produzidas pela IA.

Quanto ao futuro, ela acredita que a IA generativa deixará de ser novidade e se tornará parte invisível da estrutura social e profissional, reorganizando rotinas de trabalho e estudo. “O desafio é não perdermos de vista o que é humano — criatividade, julgamento crítico e empatia — para que a ferramenta seja apoio, e não substituta da autoria”, conclui.

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