A estratégia global da Huawei claramente se ampliou para além da conectividade. IA é hoje um tópico em que a empresa coloca boa parte dos seus esforços de pesquisa em desenvolvimento, que conforme o balanço mais recente da companhia superam 22% das receitas, o que dá US$13 bilhões ao ano apenas em P&D. Mas inteligência artificial vem com um desafio: é uma cadeia complexa, que vai além dos data centers e conectividade, que são as duas frentes de negócio consolidadas há vários anos na estratégia da Huawei. Ser uma empresa com liderança em IA implica também domínio de tecnologias de semicondutores, software, acesso a energia… Ao mesmo tempo, estar inserido em uma briga muito maior, que envolve as estratégias dos países. IA é a prioridade geopolítica de China e EUA, que claramente disputam uma corrida acirrada.
Nesse contexto, o principal evento anual de tecnologia da própria Huawei, o Huawei Connect, que acontece esta semana em Shanghai, teve na inteligência artificial o seu tema central, com o mote "All AI", ou algo como "IA em tudo", em que os principais lançamentos e demonstrações tinham IA como pano de fundo.
Para Daniel Zhou, presidente da Huawei para a América Latina, a empresa já trabalha para fazer com que a Inteligência Artificial seja uma realidade para todos os seus clientes e de fato essa é uma parte fundamental da estratégia futura da empresa. Mundialmente, já são mais de 10 clientes, por exemplo, utilizando soluções de cloud com DeepSeek, que é apenas um dos parceiros de tecnologia da empresa em IA. A empresa segue com a estratégia de desenvolver o Pangu, o seu próprio modelo de IA com foco em aplicações verticais dedicadas ao mercado B2B. Mas o resumo é: a Huawei está definitivamente no centro da estratégia chinesa para ganhar espaço na infraestrutura de dados, para além do papel que a empresa desempenhou (e desempenha) com o desenvolvimento da conectividade banda larga.
Durante o Huawei Connect, o chairman rotativo da Huawei, Eric Xu, anunciou os planos da empresa para, até o final do ano que vem, entregar o maior cluster de processamento de inteligência artificial em capacidade do mundo, todo baseado na agregação de 8 mil GPUs Ascend 950 (e posteriormente os processadores 960 e 970). Trata-se da família de chips de IA da própria Huawei, rodando em paralelo no chamado SuperPoD, uma estrutura de 1 mil metros quadrados com centenas de gabinetes de processamento. Foi a forma que a empresa encontrou de compensar a defasagem que a sua própria tecnologia ainda tem em relação às GPUs da NVIDIA que, aliás, desde esta semana, não podem mais ser importadas pelas empresas de tecnologias chinesas. Ou seja, a Huawei passa a ser uma peça ainda mais essencial na estratégia de IA do país.
Em conversa com jornalistas da América Latina, Daniel Zhou comentou esse movimento: "O que estamos fazendo hoje é que estamos aumentando as nossas capacidades de centros de dados com habilidades de AI, o que faz com que a rede de dados seja capaz de gerar grandes modelos de linguagem, como o DeepSeek, e servir aos clientes", diz Zhou. Segundo ele, "o governo da China tem uma estratégia muito clara em relação à AI para o longo prazo, com diferentes parceiros investindo na área da IA, seja empresas de telecomunicações, governos locais ou o governo central operando alguns maiores centros de dados de IA em diferentes partes da China", diz. "O que estamos vendo hoje é a China se preparando para esse dia, maximizando o uso da tecnologia de IA em diferentes verticais de negócios. A Huawei é parte (desse processo), seja através da nossa nuvem ou através da nossa capacidade computacional de IA, e isso está sendo oferecido aos nossos parceiros, inclusive na América Latina". Ele faz questão de ressaltar, contudo, que a Huawei é uma empresa privada e que não olha para questões políticas dos países em que atua. "Nosso foco está em entregar o que os nossos clientes demandam".
No espaço de demonstração da empresa durante o evento, essa abordagem era aplicada a diferentes verticais de negócio, como mineração, energia, saúde, educação, cidades inteligentes, mercado financeiro, seguradoras, mídia etc: como os problemas de transformação digital destas indústrias podem ser solucionados com uma combinação de conectividade (fibra ou 5G) combinada com nuvem e capacidade de processamento para IA. (O jornalista viajou a convite da Huawei)