Imagine confiar à inteligência artificial a segurança da sua empresa sabendo que os algoritmos foram treinados com informações de ataques cibernéticos de cinco anos atrás – ou com dados sobre falhas que já nem existem mais. Parece absurdo. Mas essa é a realidade de muitas organizações que correm para adotar IA sem cuidar do mais importante: a governança de dados.
No mercado atual, CEOs vivem sob forte pressão para aumentar as receitas, e a IA normalmente surge como uma expectativa de ser a solução mágica que tanto buscam. No entanto, sem dados bem estruturados, qualquer promessa de ganho pode virar um desastre. É como construir um prédio sobre um terreno inadequado. O colapso é questão de tempo!
Não importa quão avançados sejam os algoritmos. Dados ruins produzem resultados ruins. E, pior, reforçam erros e vieses históricos! O famoso 'garbage in, garbage out' nunca foi tão verdadeiro. Com os Grandes Modelos de Linguagem (LLM), cujo desempenho depende diretamente da integridade dos dados utilizados, não há IA que corrija sozinha falhas profundas na base de informação. Sem governança, até as melhores ideias ficam pelo caminho.
Um exemplo clássico: em 2018, uma gigante global do e-commerce precisou descartar seu sistema de recrutamento por IA quando descobriu que o algoritmo discriminava mulheres — repetindo preconceitos escondidos nos dados históricos de seleção. Nesse caso, faltou curadoria, validação ética e controle de viés, e o resultado foi uma reputação manchada, dinheiro desperdiçado e retrabalho.
Além disso, dados bem governados tornam-se ativos estratégicos valiosos para empresas: evitam retrabalho, garantem consistência nas análises, aumentam a confiança em decisões corporativas baseadas em dados e impedem o desperdício de recursos em projetos que fracassam devido à baixa qualidade da informação.
Segundo o Gartner, até o final de 2025, 30% dos projetos de IA Generativa serão abandonados após provas de conceito, justamente por conta da má qualidade dos dados. Sem governança, não há consistência, não há confiança e não há retorno do investimento.
Portanto, antes de turbinar qualquer área com inteligência artificial – seja para ganhar eficiência, melhorar a experiência do cliente ou criar novos produtos – é essencial ter certeza de que os dados estão prontos para isso. Governança é o investimento "invisível" que garante que a IA funcione de verdade, gere valor de longo prazo e proteja a empresa de riscos desnecessários.
No fim das contas, a grande questão para empresas líderes não é mais se adotarão IA, mas sim se os dados já estão preparados para sustentá-la. Investir primeiro em governança garante que os benefícios da IA sejam sólidos, sustentáveis e alinhados com os objetivos estratégicos da organização. Afinal, inovação sem preparação não é progresso, é apenas uma perigosa aventura corporativa.
* Sobre o autor – Thiago Martins de Oliveira é especialista em Data & Analytics na Positivo S+, marca de serviços gerenciados de TI da Positivo Tecnologia. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente as visões de TELETIME.